Um dia acordamos e vemos que a cada dia temos que nos superar

Ao fim de mais uma etapa, temos que encerrá-la com o melhor. E isso que vou passo a passo contar aqui para vocês. As etapas do meu livro-reportagem, provisoriamente intitulado: "Cultura Hare - Um pedacinho da Índia no Vale do Paraíba"

Primeiro Contato

sábado, 21 de março de 2009

A passagem pelo portal que nos revela um universo novo nos insere num mundo que beira o fictício.
Ao longe se vê um templo hindu, num lugar elevado, rodeado pela beleza natural da serra da Mantiqueira que parece proteger o vale com suas muralhas azuis e exuberantes.
Um “porteiro” vestido à moda indiana nos recepciona e nos vemos no limite de dois mundos. Um que você tem total controle, onde circula com liberdade. E outro onde você é um estranho.
Nosso primeiro contato com a cultura Hare já esta estabelecido. Estamos em solo sagrado, ladeado por criaturas sagradas, de costumes diferentes, de vida diferente, de deuses diferentes.
- “Chega de sacolejo, chegamos!”
Nossa ansiedade de jornalistas aflora ao passo que vai chegando a hora de vitimar algum morador de Nova Gokula com nossas perguntas e curiosidades. O olhar se perde diante tantas informações. O lugar por si só inspira-nos a discorrer em longas linhas, as sensações, as observações e as impressões. Caminhando como quem não quer nada, vamos nos conduzindo em direção a uma lanchonete e lá começamos nossa interação com uma devota, atendente da lanchonete, que depois vim, a saber, que se chamava Flávia, nos apresentamos e informamos nosso intuito. Ao lado conversavam dois homens, um vestido a moda do local, outro de bermuda e camiseta, logo somos direcionados a eles. Um deles é o devoto Lupa Oranga, vestindo um dhoti laranja que depois me explicou em se tratar da cor dos solteiros. E é Lupa que recepciona os turistas e curiosos como nós. Falamos a ele sobre nossas intenções e com muita simpatia se colocou a nosso dispor, nos levando em um lugar mais tranqüilo onde pudéssemos conversar.
Despedimo-nos da cantina na fazenda e caminhamos, acompanhados por Lupa Oranga diante para um lugar que parece ser um templo. Um templo aberto, circundado por correntes a meia altura, onde imponente e harmonioso está a estátua de Prabhuphada, mestre espiritual responsável por trazer a consciência de Krishna ao Ocidente.
Diante da paz que Nova Gokula inspira, começamos nosso bate papo com nosso recepcionista que muito gentilmente nos expõem os princípios e conhecimentos da cultura, religião e filosofia Hare Krishna.
Fico absorto a conversa e não percebo a aproximação de duas vacas que perambulam livremente pela fazenda. A posição de estar sentado projeta e amplia a figura da vaca que ao percebê-la próxima, bem próxima, de relance, pensei não ser algo desse mundo. Um par de chifres que amedronta qualquer toureiro releva um animal sagrado, venerado para a religião hindu; a segunda mãe.
-“Não tem perigo. Ela não faz nada!”. Tento veemente acreditar nas palavras do devoto que mora na fazenda há pelo menos dez anos.
-“Ai meu Deus, digo, Krishna do céu!” A vaca se aproxima. E com um gesto de mão e os dizeres “Hare Krishna”, o animal se desvia de nós e segue seu caminho livremente.
Com 55 anos, Lupa Oranga dedica-se a ciência espiritual, religião e filosofia Hare Krishna desde os 22 anos, quando, em busca de respostas para questionamentos corriqueiros e profundos habitantes na mente de qualquer mortal como “Deus existe?”, “Quem é ele?”, Qual meu propósito aqui?”, “Depois da morte, o que acontece?”. Depois de freqüentar e estudar as mais conhecidas religiões do ocidente, nosso entrevistado, encontrou na filosofia védica e nos ensinamentos do Bhagavad Gita, as respostas que procurava.
Nas diferenças de credo habita uma surpreendente semelhança. O objetivo é o mesmo, o ensinamento único. Só o protagonista, antagonistas e coadjuvantes que mudam de nome, mas o enredo é o mesmo.
Embora nada ainda evidencie a escolha do local como algo predestinado. Leigamente, intrusamente ao estar presente no local, somos levados a tal pensamento.
Ao desvencilhar o olhar e atenção de Lupa Oranga, vemos, em um nível mais baixo, a movimentação de devotos, turistas que buscam refrescar o corpo no rio que contorna e comunga com a harmonia do local.
O rio que nos acompanhou por toda estrada, ora escondido, ora revelado, novamente nos cumprimenta feliz ao adornar a paisagem transcendental de Nova Gokula. Afinal, o caminhante permanente e que não cansa de percorrer os caminhos aos pés da Mantiqueira, já é personagem fundamental em qualquer conceito e ideal de lugar perfeito.

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