Um dia acordamos e vemos que a cada dia temos que nos superar

Ao fim de mais uma etapa, temos que encerrá-la com o melhor. E isso que vou passo a passo contar aqui para vocês. As etapas do meu livro-reportagem, provisoriamente intitulado: "Cultura Hare - Um pedacinho da Índia no Vale do Paraíba"

A Primeira Impressão

quinta-feira, 12 de março de 2009

Num domingo (08/3) de pleno verão, onde o sol raia em toda sua plenitude, vamos nos despedindo da cidade e pouco a pouco adentrando em um universo ao nosso alcance, mas cada vez mais distante; o campo.
Não muito longe do vai e vem de carros, a atmosfera é outra. O ar é outro. A paisagem é outra. Os habitantes são outros. Inicia-se aí, numa estrada única, o nosso caminho para as Índias, onde o sol, apesar de ainda continuar pleno, agora divide o espaço dos nossos rostos com as sombras das árvores, com o frescor dos ventos cheirando eucalipto, com a natureza.
Somos guiados pelos raios que brincam de esconder por entre as árvores e que vão esplendorosamente marcando nosso caminho e terminando sua plenitude dourada no asfalto que nos serve de guia.
Passa-se uma, duas, três, trezentas, três mil curvas até você perder conta e perceber que está submerso ao verde, ao ar, ao clima, ao nada, ao tudo, a natureza.
A cidade já ficou para trás e você deixa de ter um local de partida, e seu olhar passa a só focalizar hipnotizado seu destino, seu horizonte. O azul da Mantiqueira a seguí-lo, a atraí-lo, vai conduzindo-o estrada adentro de um novo espaço. Um espaço transcendental, onde o agito, o corre-corre das pessoas da cidade dá lugar à pastagem calma, sutil de criações de bois brancos à margem da estrada.
Um resquício ou outro de ‘urbanidade’ vai surgindo ao dobrar de curvas, mas uma cidade diferente. De vida simples, de hábitos simples, onde se observa rostos felizes. Felizes com a simplicidade. Felizes com a criação que corre solta no quintal. Felizes com as galinhas que ciscam à beira do asfalto. Com o movimento que surge com o verão que trás turistas que buscam um lugar para refrescar-se nesse verão de 35 ºC.
Há de prestar muita atenção e ser um motorista responsável para não deixar-se seduzir pela beleza e atrativos que adornam nosso caminho.
O rio mata a cede de corpos castigados pelo calor. Outros tantos, interessados não em ceder apenas ao banho do rio, continuam a caminhada que logo perde mais um sinal de cidade. O asfalto fica para trás e nos aventuramos embalados pelo traquejo adquirido pelo andar sobre as pedras e pedregulhos daquela estrada de outrora, cômoda, asfáltica, iniciada há pelo menos 18 km atrás. Temos a nítida sensação de estranheza. Estranheza com o nada, com o belo, com o som, ou melhor, com a falta dele, com o rio que corre, ora nervoso, ora calmo. Confesso que apreensão com a estrada aumenta a media que o traquejo aumenta.
Mais uma estranheza! A estranheza com a estrada genuína, primitiva, original, de chão.
A vida urbana nos faz ‘não identificados’ com o espaço que se revela a nossa volta, nos faz estranhar o original, o primeiro, o verdadeiro, mas essa sensação não é nada em consideração ao bem estar adquirido com o contato com o pleno. Que se faz ainda mais presente com o aroma das flores brancas que perfumam a estrada de pedras e as sombras das grandes árvores que nos protege do astro maior. Uma estrada totalmente sombreada e perfumada, agora sem curvas. Reta! Que continua. Que nos deixa. Onde nos separamos para adentrar a uma nova realidade.
A impressão de estarmos em outro espaço dá lugar à certeza. Uma ponte, um portal com os dizeres “ISKCON, FAZENDA NOVA GOKULA”, carimba nosso passaporte com a chegada ao mundo "HARE", a cultura Indiana vivente no Vale do Paraíba.